quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Padre Responde - A visão da Igreja sobre a homossexualidade

Pergunta: Gostaria de saber que atitudes devemos tomar ao conviver com homossexuais. Já ouvi falar que a Igreja abomina a prática homossexual e é contra esse tipo de relacionamento, mas que não discrimina o homossexual, em si. Isso é verdade? O que fazer? Como agir?


Caríssimo leitor, antes de responder ao que você pergunta, seria necessário apresentar uma abordagem sobre a questão do homossexualismo. Tomo como referência a reflexão de Livio Melina no livro “El actuar moral Del hombre”.

A homossexualidade é vista como fracasso na abertura à alteridade sexual. A pessoa não conseguiu a realização da finalidade própria da sexualidade humana.

O Catecismo da Igreja nos diz que “a homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres que experimentam uma atração sexual, exclusiva ou predominante, para com pessoas do mesmo sexo. Ela reveste formas muitos variadas através dos séculos e das culturas” (CIC 2357). Daqui, podemos dizer que a homossexualidade não é sempre uma condição bem definida.

Quando falamos da condição homossexual, é preciso distinguir entre pseudo-homossexualidade, homossexualidade transitória e homossexualidade definitiva. Há diferentes motivações em cada uma destas situações: a dependência afetiva, o poder ou o domínio e a gratificação sexual no sentido estrito.

Na pseudo-homossexualidade, prevalece a motivação de dependência ou de domínio ou ambas. A força destas  motivações leva a pessoa a estabelecer com outra pessoa do mesmo sexo relações que podem adquirir uma qualidade erótica. Neste nível, podemos falar também de homossexualidade imaginária ou temida, a qual afeta, sobretudo, os meninos adolescentes em período de maior depressão ou insegurança. Temem ser homossexuais sem nunca ter experimentado uma clara atração homossexual, ou tendo experimentado somente uma atração passageira. Este nível pode ser relativamente fácil de superar.

A homossexualidade transitória se manifesta em uma etapa do desenvolvimento adolescente ou em uma situação de exclusiva interação com pessoas do sexo idêntico ao seu.

A condição homossexual ou de homossexualidade definitiva é o tipo de homossexualidade ao qual em geral se faz referência.

Outra coisa a distinguir é a atividade e a orientação homossexual. A orientação homossexual tem a ver com uma consciente atração física acompanhada de fantasias espontâneas sexuais na relação entre pessoas de sexo idêntico ao próprio. A pessoa se descobre assim, sem ter escolhido tal situação. Esta situação significa uma desordem objetiva da orientação sexual.

A atividade homossexual inclui um ato deliberado com o qual se aceita livremente a orientação espontânea.

Quando perguntamos sobre a origem da homossexualidade devemos saber que esta ainda não é clara para nenhum setor do conhecimento. As explicações prevalentes seguem três modelos diferentes: genético, psicológico e traumático.

A explicação genética remete a disposições genéticas que provocariam um desequilíbrio hormonal. Até agora não há provas convincentes para este argumento. A explicação psicológica se refere aos processos de aprendizagem anormais ou perturbados durante a fase desenvolvimento. O modelo clássico de explicação psicológica faz referência a uma situação familiar na qual as relações eram perturbadas. Uma mãe possessiva e dominadora, muito próxima ao sujeito que poderá se tornar homossexual, ou ainda super-protetora e que tivesse atitudes que não favorecessem a educação masculina ou feminina. Pode-se colocar também uma ausência do pai ou uma presença paterna pouco masculina, o que tornaria difícil o processo de identificação sexual. Há ainda outros fatores. O modelo traumático estaria a traumas da infância na relação entre genitores-filhos: negligência, maus-tratos do genitor do mesmo sexo deixando a criança insatisfeita em suas necessidades de relação com o genitor do mesmo sexo, além de outros fatores nesse campo.

Devemos ter em mente que muitas informações sobre esta questão são manipuladas por astúcia de grupos de pressão que desejam fazer crer que sua situação é “normal”, a chamada cultura “gay”. E essa contribui também para que alguns sejam influenciados quanto a este comportamento.


A experiência psicológica da pessoa homossexual: Nos diversos estudos sobre esta questão, nota-se que se destaca o forte componente narcisista nestas pessoas. Nas relações homossexuais, os sujeitos são atraídos por pessoas do mesmo sexo que revelam imagens narcisistas de si. A dimensão narcisista, sempre presente em todo homossexual, impede ou obstaculiza fortemente a possibilidade de uma relação vivida na alteridade reconhecida. Uma relação homossexual salva a alteridade pessoal, mas não a alteridade sexual. O outro com o qual se estabelece a relação é o idêntico; não é o complementário, mas o espelho de si mesmo. Há um medo ao diferente.

A simbologia da sexualidade homossexual é diferente da heterossexual por causa da dupla ausência que leva consigo: falta de dualidade sexual, enquanto que a alteridade com a qual se coloca em relação é a mesma de si e a falta da dimensão procriativa, o que torna incompreensível os conceitos de paternidade, maternidade e filiação. A abertura ao outro, propiciada pelo desejo sexual, voltando-se para si mesmo, perde a fecundidade que a alteridade sexual introduz na comunhão entre as pessoas. A intrínseca e constitutiva esterilidade de tal relação é o reflexo da involução do desejo que acontece em tal relação. Esta situação é de objetiva pobreza, por isso não convém ser aprovada nem muito menos estimulada de nenhuma maneira.

Os textos bíblicos.  A Sagrada Escritura não é indiferente a esta questão: Gn 1,27 (a original intenção do Criador); Lv 18,22; 20, 13; Rm 1, 24-27; 1Cor 6, 9-10;1Tm 1,10.
Em Rm 1, 26-27 São Paulo vê na homossexualidade praticada no paganismo a decadência moral provocada pelo desconhecimento de Deus, da qual somente a fé em Cristo pode salvar. Em 1Cor 6,9 a prática da homossexualidade é uma injustiça moral e o sinal da ausência da justiça que vem de Deus em Cristo, ausência que exclui do Reino escatológico. Em 1Tm 1,10 a Lei condena a homossexualidade e sua prática como contrária à santa doutrina do Evangelho. Em alguns destes textos, a homossexualidade é mencionada dentro de uma relação de vícios, os quais são considerados todos graves.

Na carta aos Gálatas, São Paulo destaca que um dos frutos do Espírito é o domínio de si (Gl 5,23). A homossexualidade, portanto, não pode ser um comportamento cristão. É preciso aqui destacar que existe uma evidente coerência no interior das Sagradas Escrituras no que diz respeito ao comportamento homossexual. Por isto, a doutrina da Igreja sobre esta questão não se baseia apenas em frases isoladas, e sim no sólido fundamento de um testemunho bíblico constante.

A Igreja, na Declaração Persona Humana sobre algumas questões de ética sexual, diz: “Segundo a ordem moral objetiva, as relações homossexuais são atos privados de sua regra essencial e indispensável. Eles são condenados na Sagrada Escritura como graves depravações e apresentados como funesta conseqüência da rejeição de Deus. Este juízo da Sagrada Escritura não permite concluir que todos aqueles que sofrem desta anomalia sejam pessoalmente responsáveis por ela, porém, isso demonstra que os atos homossexuais são intrinsecamente desordenados e que, em nenhum caso, pode receber qualquer aprovação”.

O uso da função sexual encontra seu verdadeiro sentido e sua retidão moral somente no matrimônio legítimo. É somente na relação conjugal onde o uso da faculdade sexual pode ser moralmente reto. Isso significa que somente nesta situação se acolhe a verdade do projeto de Deus, sem falsificá-lo.

A razão da imoralidade do comportamento homossexual está no fato de que eleger uma atividade sexual com uma pessoa do mesmo sexo equivale a anular o rico simbolismo e o significado, sem falar dos fins, do desígnio do Criador naquilo que se refere à realidade sexual. A atividade homossexual não expressa uma união complementária capaz de transmitir a vida e, portanto contradiz a vocação a uma existência vivida na forma de auto-doação que, segundo o Evangelho, é a essência mesma da vida cristã.

Nós cristãos, portanto, condenamos os comportamentos homossexuais; os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados e, em nenhum caso, pode receber alguma aprovação.

Uma situação diferente é a tendência homossexual sem culpa. Nós cristãos não condenamos a pessoa que carrega esta situação; porém, esta situação não pode justificar a prática de atos homossexuais. A particular inclinação da pessoa homossexual, mesmo que não seja em si pecado, constitui uma tendência, mais ou menos forte, para um comportamento intrinsecamente mau do ponto de vista moral. Por este motivo, a própria inclinação deve ser considerada como objetivamente desordenada.

Nós cristãos acreditamos que o esforço humano, iluminado e sustentado pela graça de Deus, poderá consentir que o indivíduo evite a atividade homossexual. Um sinal que podemos ter é o esforço sério empreendido para sair da situação ou para abraçar uma vida de abstinência sexual. Recordemos que essa última exigência também é para aqueles que não sentem tal inclinação.

Não se pode, com o pretexto da compaixão por causa da situação difícil de muitas destas pessoas, apresentá-las como normais, como sendo um modo alternativo de viver a sexualidade, e pior ainda como um modo de reinventar o matrimônio e a família. A palavra caridade para com os outros deve estar ao lado da palavra verdade, se queremos de fato ajudar o próximo.

A pessoa homossexual deve ser tratada sempre com muito respeito e caridade; geralmente sofrem feridas profundas em sua auto-estima. O Catecismo diz que “As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Mediante as virtudes de domínio, educadoras da liberdade interior e, às vezes mediante o apoio de uma amizade desinteressada, da oração e da graça sacramental, podem e devem aproximar-se gradual e decididamente da perfeição cristã” (CIC 2359). Tudo isso parece difícil, mas não podemos dizer impossível, se contamos com a graça de Deus.

A Igreja, nossa Mãe deseja a felicidade de seus filhos, o melhor para eles. Ela sabe que se algo é mau, isso não pode nos fazer bem, não promove a dignidade da pessoa. Ela sabe que como acontece com qualquer outra desordem moral, a atividade homossexual impede a auto-realização e a felicidade porque é contrária à sabedoria criadora de Deus. Nosso caminho espiritual consiste numa identificação sempre maior com a pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Lamentamos o fato de que as pessoas homossexuais tenham sido e sejam ainda hoje objeto de expressões malévolas e de ações violentas. Semelhantes comportamentos rejeitados pelos cristãos. Eles revelam uma falta de respeito pelos outros que fere os princípios elementares sobre os quais se alicerça uma sadia convivência civil. A dignidade própria de cada pessoa deve ser respeitada sempre, nas palavras, nas ações e nas legislações.

A caridade deve estar sempre presente no relacionamento com quem carrega uma dificuldade, seja ela qual for. Em todo caso, um princípio da boa convivência é respeitar para ser respeitado. Por isso, qualquer um deve ser magnânimo na relação com os outros e também solicitar que os outros o sejam. A vulgaridade deve ser evitada na relação com qualquer tipo de pessoa; de maneira que você não é obrigado a aceitar um comportamento desrespeitoso de outra pessoa, seja ela homossexual ou não. Acreditamos que todas as pessoas desejam ser fiéis à sua consciência, orientadas para a verdade e, conseqüentemente, para o bem. Isso é fundamental em um ambiente onde vivem diferentes tipos de pessoas.
A posição da moral católica baseia-se na razão humana iluminada pela fé e guiada conscientemente pela intenção de fazer a vontade de Deus, nosso Pai. A Igreja sabe que toda e qualquer pessoa foi criada por Deus e, por sua graça, é chamada a ser herdeira da vida eterna.

As pessoas homossexuais, como os demais cristãos, são chamadas a viver a castidade. O Senhor Jesus disse: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8, 32). A Sagrada Escritura manda-nos realizar a verdade na caridade (cfr. Ef 4, 15).

Texto: Pe. Cícero Lenisvaldo Miranda

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