Pergunta: Boa noite Padre Cícero. Bom a minha dúvida não é propriamente sobre a igreja, mas sim, sobre fé. Fui batizada na igreja católica, minha mãe é muito religiosa e sempre me ensinou os valores da igreja, porém de uns meses prá cá, venho perdendo a minha fé, tantas coisas ruins aconteceram na minha vida, quando ligo a TV e vejo a violência e os valores das pessoas hoje em dia, me entristeço muito e sempre me questiono sobre a real existência de Deus, eu rezo muito Padre, peço que Deus me dê um sinal de sua existência, qualquer que seja ele, mas não encontro absolutamente nada. Porém, Padre, eu não quero e nunca quis ser Ateu, não gosto nem de pensar nisso, acho muito triste e vazia a vida de alguém que não acredita em nada e eu quero acreditar, quero muito, o Senhor não imagina o quanto eu me sinto angustiada com essa situação, choro todos os dias...me ajude padre, conforte o meu coração e me diga como posso aumentar a minha fé? Agradeço desde já.
Resposta: Caríssimo leitor,
Em certo sentido é edificante a sua santa preocupação. A primeira questão que você apresenta é que Deus parece ser o responsável pela existência do mal ou da perda de valores no mundo atual. De fato, o mal é algo que projeta uma sombra na imagem de Deus e faz com que muitos se afastem dEle. A nossa fé, porém, nos diz que Deus, que é o princípio de tudo que existe, é bom, ou melhor, é a própria Bondade. Tudo que Ele criou carrega traços desta bondade. A única coisa que não foi criada por Deus foi o mal. Este não pode proceder de Deus. Como, então, entendemos a existência do mal, visto que tudo tem origem em Deus? Repare bem, o mal é ausência do bem; ele surge exatamente quando o bem não se faz presente. Daí concluímos que a ausência do bem no mundo de hoje é porque o coração das pessoas se afastou de Deus. Quando falta a luz, a escuridão se faz presente. Por isso, não podemos responsabilizar Deus pelo mau que existe hoje no mundo. Se o mal existe é exatamente porque as pessoas se afastaram de Deus e o colocaram fora de suas vidas. Observe, por exemplo, a tentativa de alguns de retirar os símbolos religiosos dos lugares públicos... o que isto poderá trazer como consequência para o futuro de nossa nação? O querer atribuir a Deus a responsabilidade pelo mal é consequência exatamente do pecado. Recorde o que disse Adão a Deus depois que decidiu pelo pecado: “Foi a mulher que o Senhor me deu que me fez pecar!” (Gn 3, 12); em outras palavras, Adão está dizendo: “Ora, se foi o Senhor que me deu esta mulher que me fez pecar, então é o Senhor o culpado pelo meu pecado!”. A seguir, coloco um texto que me enviaram pelo e-mail e que ilustra um pouco isso que estou dizendo; em seguida, continuarei com o comentário sobre a sua pergunta:
“Foi feita a seguinte pergunta a uma jovem norte-americana: Por que Deus permitiu que acontecesse uma tragédia como aquela no dia 11 de setembro?
Resposta: Eu creio que Deus está profundamente triste; eu também. Mas, há muitos anos dissemos a Ele que saísse das nossas escolas, do nosso governo, das nossas vidas. Sendo Ele uma pessoa gentil, certamente saiu com calma. Como podemos esperar que Deus todos os dias nos dê a sua bênção e a sua proteção se dissemos para Ele: ‘Deixe-nos em paz!’ Considerando todos esses acontecimentos recentes... ataques terroristas nas escolas, ... penso que tudo tenha começado quando há 5 anos uma mulher obteve que não fosse mais permitido que se fizesse nenhuma oração nas escolas norte-americanas e dissemos OK! Depois, alguém disse: ‘é melhor não ler a Bíblia nas escolas...’ (a mesma Bíblia que diz “não matarás, não roubarás, ama o teu próximo como a ti mesmo”). E nós dissemos OK! Depois alguém disse que não deveríamos impedir os nossos filhos que se comportem mal porque podemos causar danos à personalidade deles. Dissemos: é um expert quem está falando, portanto OK! Depois alguém disse que não seria oportuno que os professores punissem os nossos filhos quando se comportassem mal, e dissemos OK! Depois alguém disse: o presépio não deve ofender às minorias, assim colocaram no lugar de Maria e de José a Spice girl e Batmam. E dissemos também OK! Agora nos perguntamos: como pode os nossos filhos não terem mais consciência e não saberem distinguir o que é justo do que é errado. Se observamos bem, estamos colhendo o que semeamos’.
A segunda questão que você coloca é sobre a existência de Deus. Veja bem, a fé cristã afirma que Deus é eterno. O conceito de eternidade indica que O Ser não tem princípio e não terá fim. As coisas que conhecemos são finitas, temporais, tiveram um início e terão um final. É exatamente a partir destas coisas que constatamos que existem que concluímos a existência de Deus. Repare que tudo que existe teve um momento em que passou a existir; para que aquele momento acontecesse, foi necessário que existisse um outro (que chamamos de CAUSA) que desse origem ao que agora existe. Tudo que existe tem uma causa, ou em outras palavras, todo efeito possui uma causa.
Observemos esta imagem para entendermos melhor: Você, certamente, em sua casa, algumas vezes, ao meio-dia se alimenta de feijão. Pois bem, antes que existisse aquela semente de feijão, foi necessário que existisse o pé de feijão; o qual por sua vez é resultado de uma semente que veio de uma outra planta de feijão... Fazendo esse percurso, iremos chegar a uma semente de feijão que deu origem a todas as outras atuais. A pergunta que surge espontaneamente: quem colocou aquela semente inicial lá? Nós respondemos: Deus. Ele é o Criador de tudo; aquele que fez todos os seres existirem.
Não existe o acaso. Se você jogar as peças de um relógio para o alto, elas não irão cair formando um relógio montado; é necessário que exista o relojoeiro. Portanto, ao refletir sobre a existência do universo, faz-se necessário admitir a existência de um Princípio criador; pois verificamos que as coisas não são causa de si mesmas, nem são eternas. Deus, portanto é o Princípio de tudo; tudo que existe foi criado por Deus. Porém, não podemos pensar que Deus tenha sido criado; isso implicaria dizer que esse que pensávamos que era Deus, na verdade não o é pelo fato de ter sido criado. Deus seria aquele que o criou.
Algumas pessoas consideram este princípio ordenador do universo como sendo um ser superior, uma força cósmica, uma energia.... Porém, ele seria um ser desconhecido. Criou o universo e foi embora, não se interessa por nós. Essa compreensão de Deus nós chamais de "DEÍSMO". Nós, cristãos, somos "TEÍSTAS"; esse conceito significa que acreditamos que Deus não é uma energia, uma força cósmica, mas que é um ser PESSOAL. Acreditamos também que Ele, depois de dar origem ao universo, não nos abandonou, mas que se preocupa conosco. Que continua conservando a criação na existência (se Ele deixasse de conservar a criação na existência, ela voltaria ao nada); é por isso que dizemos que Deus é providente. Ainda mais, acreditamos que Ele mesmo veio até nós e se fez conhecer (a esse acontecimento nós chamamos de REVELAÇÃO). Deus não é o desconhecido, mas se fez conhecer em Nosso Senhor Jesus Cristo. Tudo aquilo que nós católicos dizemos de Deus não é invenção nossa, mas é consequência do que o próprio Deus nos transmitiu quando na sua Revelação em Jesus Cristo. Ela se deu há dois mil anos aproximadamente, na Palestina; e acreditamos que é a única Revelação de Deus e não há outra.
É verdade que a mente, o nosso intelecto, chega a um ponto que parece não conseguir ir mais além na compreensão do mistério de Deus. Aqui, os santos dizem que devemos silenciar, dobrar os joelhos e adorar este tão grande mistério. Se compreendêssemos totalmente, sem ter nada mais a esclarecer, então ali não seria Deus; pois Ele permanecerá sempre muito acima de nossa capacidade de total compreensão.
Para concluir a resposta a esta segunda parte de sua pergunta, sugiro que você contemple o mar, sua imensidão, seu movimento, o fato de que ele permanece sempre naquele limite...; sugiro também que contemple o céu numa noite estrelada (recomendo que faça isto fora da cidade, onde não existe a luz elétrica), observe a quantidade de estrelas, imagine a imensidão do universo, sua ordem e movimento...; sugiro ainda que observe as pétalas das rosas, como são belas e variadas... existiria um artista que fosse capaz de fazer tudo isso com tanta beleza e perfeição? Haveria tantas outras coisas a contemplar, mas acredito que estas três indicações são suficientes para o momento. Veja, o homem não seria capaz de alcançar tanto, como também seria muito redutivo e incoerente dizer que tudo seria obra do acaso. Desejo que você, nesse ritmo tão frenético do mundo atual, consiga encontrar tempo para CONTEMPLAR.
A seguir, apresento um diálogo interessante que nos ajuda a compreender esta questão:
“Ateu: Deus não existe.
Cristão: Deus existe sim.
Ateu: Prove.
Cristão: Não posso.
Ateu: Então Deus não existe.
Cristão: Sabe quando você está chupando uma laranja e você está sentindo que o gosto dela é doce?
Ateu: Sim.
Cristão: E se eu dissesse que essa laranja não é doce mesmo você sabendo que ela está, o que você faria para me provar que ela está?
Ateu: Diria para experimentá-la.
Cristão: Então, assim como você sabe que a laranja é doce porque está sentindo que ela é doce, assim eu sei que Deus existe pois eu o sinto. Eu não posso te provar que Ele existe, o único modo de você acreditar é se você experimentar e por si mesmo sentir a presença de Deus na sua vida”.
Cristão: Deus existe sim.
Ateu: Prove.
Cristão: Não posso.
Ateu: Então Deus não existe.
Cristão: Sabe quando você está chupando uma laranja e você está sentindo que o gosto dela é doce?
Ateu: Sim.
Cristão: E se eu dissesse que essa laranja não é doce mesmo você sabendo que ela está, o que você faria para me provar que ela está?
Ateu: Diria para experimentá-la.
Cristão: Então, assim como você sabe que a laranja é doce porque está sentindo que ela é doce, assim eu sei que Deus existe pois eu o sinto. Eu não posso te provar que Ele existe, o único modo de você acreditar é se você experimentar e por si mesmo sentir a presença de Deus na sua vida”.
Por último, você pergunta como fazer para aumentar a sua fé. A fé é uma graça de Deus, portanto, a primeira coisa é pedir sempre: “Senhor, eu creio, mas aumentai a minha fé!”. Uma segunda indicação é colaborar com a graça. Como? Não abandonando as práticas da fé: Santa Missa Dominical, Comunhão frequente, Confissão, oração diária, leituras espirituais, engajamento em atividades da Igreja, estudo da doutrina, desejo de santidade... mais cedo ou mais tarde, durante o caminho, a chama da fé – que certamente em você não está apagada, mas somente em uma intensidade mais baixa – crescerá imensamente. Desejo que você consiga crescer e perseverar até o último suspiro na fé da Igreja que um dia recebeu no Batismo; saiba que você estará presente em minhas orações.
O ateu de fato é uma pessoa infeliz, pois não sabe responder a certas questões existenciais fundamentais e seu confronto com Deus é terrível. Penso que são ateus porque aquilo que conheceram de Deus foi uma caricatura e não a face verdadeira de Deus. Eu mesmo, se tivesse conhecido somente esta caricatura, talvez fosse também ateu. Fica aqui nossa responsabilidade de levar a verdadeira face de Deus para o mundo. Somos felizes, sabemos que não estamos abandonados, há um Deus Criador que nos ama e cuida de nós.
Pe. Cícero Lenisvaldo Miranda.
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