Padre, como não é comum participarmos do Rito de encomendação do corpo de um Servo de Cristo, gostaria que o senhor me explicasse o significado do ataúde do Diácono José Maria ter ficado sobre um tapete no chão da igreja. Desculpe a tolice da pergunta, mas fui indagada e não soube responder. Por isso estou lhe perguntando para melhor explicar. Desde já agradeço sua resposta.
Paz e Bem!
Caríssimo Leitor,
Estamos vivendo na nossa Paróquia este período de luto pela morte do nosso Diácono José Maria, que nos deixou um testemunho muito forte de fé, de amor a Deus, à Igreja... O luto para nós não é marcado pela tristeza sem sentido, mas há em nós a esperança que nos sustenta e nos faz ver o que nossas faculdades naturais não conseguem. A esperança nos faz ver que a vida não termina com a morte, mas que continua para além do tempo. CREMOS NA RESSURREIÇÃO! CREMOS NA VIDA ETERNA!
No dia 26 de maio passado, aconteceu na Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus os funerais do Diácono José Maria. Houve a Missa e no final os ritos de encomendação seguidos pelo sepultamento.
Como sabemos, tudo na Sagrada Liturgia possui um significado espiritual. Alguns desses sinais usados:
a) Você deve ter observado que ao lado do féretro estava o círio pascal que apontava:
- para Cristo Ressuscitado (este momento possui um sentido pascal),
- para a vela que foi acesa no dia do Batismo e tantas outras vezes na vigília pascal; era portanto, o desejo de que o Diácono tenha perseverado na fé até o último respiro.
b) A posição em que o corpo ficou dentro da igreja. Ele deve ser a mesma que a pessoa ocupava durante a celebração. Isso significa dizer que se fosse um leigo, a cabeça ficaria voltada para a porta.
c) O incenso usado nos ritos finais. Indicava o desejo de que as nossas súplicas chegassem até Deus para que acolhesse no céu o nosso irmão.
d) A água benta. Recordando o batismo que o fiel recebeu.
e) As flores indicavam o desejo de que o nosso irmão pudesse desfrutar da beleza do céu.
f) O féretro no chão. É um sinal ritual muito forte. Deseja indicar que daquele momento em diante não levamos nada do que possuímos neste mundo (nenhuma honra, nenhum bem material, nenhum título humano), indica nossa debilidade, nossa indignidade diante de Deus. A liturgia não obriga, mas recomenda que seja colocado no chão. Costumamos colocar em cima de algumas bases para que facilite a aproximação das pessoas que vão se despedir do ente querido. No dia 26 de maio, o féretro foi colocado no chão minutos antes do início da Missa.
g) A Igreja reunida. Ela acompanha com suas preces o irmão que partiu e o apresenta a Deus, suplicando pela sua salvação e perdão dos pecados. Você deve ter acompanhado a ladainha de todos santos que foi entoada no cortejo até o túmulo, ali víamos a Igreja peregrina na terra e a Igreja triunfante no céu juntas em súplica; pedíamos que os santos intercedessem por ele e que o acolhessem na Jerusalém celeste.
h) O texto do Evangelho sobre o féretro. Junto com o círio, a água e as velas, possui um sentido pascal.
i) A Cruz na Igreja (a do altar), no cortejo até o túmulo (na frente do cortejo) indicando que seguimos Cristo.
Podemos dizer que o rito fúnebre é também para honrar a pessoa, mas não no sentido pagão supersticioso. Nós cristãos sabemos que o corpo é templo de Deus e destinado à ressurreição, que foi batizado, ungido pelos santos óleos e alimentado pela Eucaristia; por isso as honras simbolizadas sobretudo pelo incenso e pela água benta.
É importante destacar que a Missa, seja a do dia do sepultamento, seja a de sétimo ou trigésimo dia não é para homenagear a pessoa que faleceu, mas é em sufrágio de sua alma. Deve-se evitar, portanto, alguns costumes como:
· fazer camisas com a fotografia da pessoa estampada,
· banners ou telão com fotografias,
· entoar músicas somente porque o falecido gostava (muito menos canções populares),
· discursos que tentem homenagear ou exaltar a pessoa falecida (detalhe que muitas vezes elimina todo o sentido de esperança e fé na Ressurreição e dá um aspecto de desespero ao momento).
Observe que quando a liturgia acontece como recomenda o ritual da Igreja (com sobriedade, com leituras – cantos – orações apropriados) as pessoas saem daquele momento fortalecidas e não desesperadas.
Podemos dizer que foi isso que vimos no dia do sepultamento do Diácono e também nestes dias de lutos; havia, sem dúvida, a saudade, a sensação pela ausência dele, mas todos se sentem confortados e motivados a levar a vida adiante apoiados na fé e na esperança cristãs.
Estes são alguns detalhes rituais para a liturgia exequial, espero que tenha lhe ajudado na compreensão. Sugiro que leia aqui também a outra pergunta que foi apresentada sobre “cremação de cadáveres”.
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