"Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós
viremos e faremos nele a nossa morada." (Jo 14,23)
Jesus está dirigindo aos apóstolos suas solenes e veementes palavras de
despedida, garantindo-lhes, entre outras coisas, que haveriam de vê-los
novamente, porque Ele haveria de se manifestar aqueles que o amam.
Judas Tadeu (não o Iscariotes) pergunta-lhe então porque Ele se manifestaria
somente a eles e não ao público. O discípulo desejava uma grande manifestação
externa de Jesus, pois essa poderia mudar a história e seria, na sua opinião,
mais útil para a salvação do mundo. Com efeito, os apóstolos pensavam que Jesus
fosse o profeta tão esperado dos últimos tempos que, ao manifestar-se, haveria
de revelar-se diante de todos como o Rei de Israel e, assumindo a liderança do
povo de Deus, instauraria definitivamente o reino do Senhor.
Jesus, porém, responde que a sua manifestação não se daria de modo
espetacular e externo. Seria uma simples, extraordinária "vinda" da
trindade ao coração do fiel, vinda que se realiza lá onde existe fé e amor. Com
essa resposta, Jesus deixa claro de que modo Ele permanecerá presente no meio
dos seus, depois da sua morte, e explica como será possível ter contato com
Ele.
"Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós
viremos e faremos nele a nossa morada."
Portanto, a sua presença pode acontecer desde já nos cristãos e no meio
da comunidade; não é necessário esperar o futuro. O templo que acolhe essa
presença não é tanto um templo feito de paredes, mas o próprio coração do cristão,
que se torna assim o novo sacrário, a morada vida da trindade.
Mas como o cristão pode chegar a isso? Como pode conter em si o próprio
Deus? Qual o caminho para entrar nessa profunda comunhão com Ele?
O caminho é o amor para com Jesus.
Um amor que não é mero sentimentalismo, mas que se traduz em vida
concreta e, exatamente, na observância da sua palavra.
É a esse amor do cristão, comprovado pelos fatos, que Deus responde com
seu amor: a Trindade vem morar nele.
"Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós
viremos e faremos nele a nossa morada."
"... guardará a minha palavra".
E quais são as palavras que o cristão é chamado a guardar?
No Evangelho de João, a expressão "as minhas palavras" muitas
vezes é sinônimo de "os meus mandamentos". O cristão, portanto, é
chamado a guardar os mandamentos de Jesus. No entanto, esses não devem ser
entendidos propriamente como uma coletânea de leis. Mais que isso, é preciso
vê-los todos sintetizados naquilo que Jesus ilustrou com o lava-pés: o
mandamento do amor recíproco. Deus ordena que cada cristão ame o outro até a doação
total de si mesmo, como Jesus ensinou e fez.
"Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós
viremos e faremos nele a nossa morada."
Então, como podemos viver bem esta palavra? Como chegar ao ponto em que
o próprio Pai nos amará e a trindade virá habitar em nós?
Atuando como todo o nosso coração, com radicalismo e perseverança,
justamente o amor recíproco entre nós.
É principalmente nesse amor que o cristão encontra também o caminho
daquela profunda ascese cristã que o crucificado exige dele. Com efeito, é aí
que ele pode corresponder ao chamado da sua própria santificação.
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