quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A História da Diocese de Palmeira dos Índios

Um dos outros pontos que animaram a Festa da Padroeira de Nossa Arquidiocese é o Jubileu de Ouro da Diocese de Palmeira dos Índios. Vamos conhecer um pouco da trajetória da fundação desta Diocese?
 
A Diocese de Palmeira dos Índios foi criada no dia 10 de fevereiro de 1962 pelo Papa João XXIII, com a Bula “Quam Supremam”, a partir da finalidade de dar “aos povos cristãos a oportunidade de conservar cuidadosamente a religião e de ajustar o modo de vida aos preceitos do Sagrado Evangelho”. Mesmo tendo sido criada em fevereiro daquele ano de 1962, a outrora recém-criada Sé Diocesana de Palmeira dos Índios só foi instalada em 19 de agosto do mesmo ano pelo Senhor Núncio Apostólico na República Brasileira, Sua Excelência Reverendíssima Dom Armando Lombardi, Arcebispo Titular de Cesareia de Filipe. O nosso bispado nasceu no burilar do Vaticano II; quando estavam sendo pautados os nortes para a sua realização.
 
Todos sabiam que aquela neo Igreja particular de Palmeira dos Índios já tinha, no seu pastor diocesano, uma grande responsabilidade para com a Igreja em todo o Orbe: colaborar, mesmo com a sua pueril história, no traçar dos rumos da Igreja Católica frente aos enormes desafios a ela imposta pelo mundo moderno.
 
No começo da nossa preleção, afirmávamos que a Igreja nas terras alagoanas tinha uma dupla novidade: a convocação do Vaticano II e a criação de uma nova diocese, a de Palmeira dos Índios, cuja sede está em uma cidade que, na época, caracterizava-se por sua pujança. E esta última inovação mudaria em altos tons o quadro da administração pastoral da Igreja nestas plagas, pois, para a composição do território da nova circunscrição eclesiástica foram desmembrados municípios da Igreja Arquidiocesana de Maceió (Quebrangulo e Paulo Jacinto) e da Igreja Particular de Penedo (Água Branca, Batalha, Belo Monte, Cacimbinhas, Delmiro Gouveia, Dois Riachos, Igaci, Major Isidoro, Jacaré dos Homens, Maravilha, Mata Grande, Monteirópolis, Olho d’Água das Flores, Olivença, Palmeira dos Índios, Pão de Açúcar, Piranhas, Poço das Trincheiras, Santana do Ipanema, São José da Tapera), sendo os Bispos das respectivas Igrejas Dom Ranulfo da Silva Farias e Dom José Terceiro de Souza.
 
O decreto Christus Dominus, de 28 de outubro de 1965, do mesmo Concílio Vaticano II, define Diocese como “a porção do Povo de Deus, que se confia a um Bispo para que a apascente com a colaboração do presbitério, de tal modo que, unida ao seu pastor e reunida por ele no Espírito Santo por meio do Evangelho e da Eucaristia, constitui uma Igreja particular, na qual está e opera a Igreja de Cristo, una, santa, católica e apostólica” (n. 11). Assim, o Sagrado Concílio Vaticano II resgata uma ideia da era patrística, mais propriamente de São Cipriano, logo, querendo recordar que em uma Igreja particular está presente toda a Igreja Universal, porque é formada à sua imagem (cf. Constituição Dogmática Lumen Gentium 23). E, relacionado aos limites territoriais diocesanos, o mesmo decreto conciliar determina que: “Para se conseguir a finalidade própria da diocese, é preciso que a natureza da Igreja se manifeste claramente no Povo de Deus que pertence à diocese; que os Bispos possam cumprir eficazmente nelas os próprios deveres pastorais; e que, finalmente, se atenda, o mais perfeitamente possível, à salvação do Povo de Deus. Isto exige quer a conveniente delimitação territorial das dioceses, quer uma distribuição dos clérigos e dos recursos racional e correspondente às exigências do apostolado. Tudo isto reverte em benefício não só dos clérigos e dos fiéis diretamente interessados mas também de toda a Igreja católica. Portanto, em matéria de limites das dioceses, o sagrado Concílio dispõe que, na medida em que o bem das almas o exigir, quanto antes se realize com prudência a conveniente revisão, dividindo ou desmembrando ou unindo dioceses, alterando limites ou transferindo para locais mais convenientes as sedes episcopais, ou, por fim, sobretudo quando se tratar de dioceses que compreendem grandes cidades, dando-lhes nova organização interna” (Decreto Christus Dominus, 22). Foi na aspiração destes termos posteriormente constituídos – já que somente foram oficialmente estabelecidos no final do Vaticano II – que o Beato João XXIII criou a Dioecesis Palmiriensis Indorum, bem como tantas outras inúmeras dioceses no mundo. Curiosamente, João XXIII e João Paulo II foram os pontífices que mais erigiram dioceses na História Eclesiástica.
 
Antevendo recepcionar a nova Diocese, ainda na década de 50, o incansável Vigário da Paróquia Nossa Senhora do Amparo, em Palmeira dos Índios, o Reverendíssimo Monsenhor Francisco Xavier Macedo remodelou a Igreja Matriz para que, posteriormente, pudesse, com imponência, receber o título de Igreja Catedral, bem como organizou a construção do Palácio e Cúria Episcopais.
 
Para primeiro Bispo de Palmeira dos Índios, em 04 de julho de 1962, foi eleito por João XXIII Dom Otávio Aguiar Barbosa, na época Bispo de Campina Grande. O paraibano Dom Otávio era, no dizer da Bula de sua eleição, “homem sem dúvida cheio das virtudes episcopais e também notável pela grande piedade e pelas suas obras”.  O Prelado foi empossado na Sé Catedral Diocesana de Nossa Senhora do Amparo em Palmeira dos Índios automaticamente no dia da Instalação Canônica da nova Diocese (ou seja, em 19 de agosto de 1962) diante de Dom Armando Lombardi (Núncio Apostólico), de inúmeros bispos e autoridades estaduais e municipais. O Concílio tratou, e muito, acerca do episcopado. Em linhas gerais, poderíamos dizer que o conceito de ouro com a qual o Vaticano II nomeia os bispos é o de que na pessoa dos bispos está presente o Cristo: “Na pessoa dos Bispos, assistidos pelos presbíteros, está presente no meio dos fiéis o Senhor Jesus Cristo, pontífice máximo. Sentado à direita de Deus Pai, não deixa de estar presente ao corpo dos seus pontífices, mas é principalmente por meio do seu exímio ministério, prega a todas as gentes a palavra de Deus, administra continuamente aos crentes os sacramentos da fé, incorpora por celeste regeneração e graças à sua ação paternal (cf. 1 Cor. 4,15) novos membros ao Seu corpo e, finalmente, com sabedoria e prudência, dirige e orienta o Povo do Novo Testamento na peregrinação para a eterna felicidade. Estes pastores, escolhidos para apascentar o rebanho do Senhor, são ministros de Cristo e dispensadores dos mistérios de Deus (cf. 1 Cor. 4,1); a eles foi confiado o testemunho do Evangelho da graça de Deus (cf. Rom. 15,16; At. 20,24) e a administração do Espírito e da justiça em glória (cf. 2 Cor. 3, 8-9)” (Constituição Dogmática Lumen Gentium, 21). E, desde já, afirmamos que essa imagem se fez presente com toda a sua justeza nos três primeiros bispos de Palmeira dos Índios, ao tempo em que, humildemente, como Sucessor dos Apóstolos nestas terras, também nos esforçamos para tal.
 
Longe traçarmos uma linha historicamente definida, os bispos de Palmeira dos Índios, percebendo a escassez do clero, sendo homens visionários, apoiaram o surgimento de novas vocações para a vida sacerdotal, Prova disto, foi a implantação das Obras das Vocações Sacerdotais (OVS) já por Dom Otávio que, no seu próprio dizer, afirmava ser “com vistas ao futuro da assistência religiosa, tanto na sede como no interior”. Dom Otávio já antevia o que o Concílio determinará, mas que também já era práxis da Igreja: “O dever de fomentar as vocações pertence a toda a comunidade cristã, que as deve promover sobretudo mediante uma vida plenamente cristã. […] A Obra das vocações, segundo os documentos pontifícios nesta matéria, já fundada ou a fundar no âmbito de cada diocese, região ou nação, organize metódica e coerentemente e promova com zelo e discrição uma ação pastoral de conjunto para o fomento de vocações, sem deixar de lado nenhum dos meios que as hodiernas ciências psicológicas e sociológicas utilmente oferecem” (Decreto Optatam Totius, 2). No transcorrer do tempo, Dom Fernando Iório, já na década de 80, também deu seu enorme contributo à promoção das vocações, tal como aconselhava o Vaticano II. Para isto, fundou o Seminário Propedêutico “Cura D’Ars”. No episcopado de meu predecessor imediato foram ordenados aproximadamente quarenta sacerdotes. A Diocese de Palmeira dos Índios, quando da sua instalação em 1962, contava com apenas onze paróquias, inclusive tendo algumas que possuíam uma vasta extensão territorial. Era necessário criar mais comunidades paroquiais. Interessante que a nossa Igreja Diocesana viu surgir alguns municípios, acompanhando, como Mestra e Mãe, o desenvolvimento do povo do agreste e sertão alagoanos. Assim, no decorrer de cinquenta anos, surgiram os municípios de Canapi, Carneiros, Estrela de Alagoas, Inhapi, Jaramataia, Mar Vermelho, Olho d’Água do Casado, Ouro Branco, Palestina, Pariconha e Senador Rui Palmeira. Ao longo destes cinquenta anos, foram instaladas diversas paróquias em todo o território do bispado. Atualmente, nossa Diocese consta de 33 paróquias, bem como de outras comunidades que, dentro em breve, serão elevadas a categoria paroquial. Também, para um maior serviço ao povo de Deus, instalaram-se na Diocese algumas Congregações Religiosas: Congregação das Religiosas do Sagrado Coração de Jesus, Irmãs Franciscanas de Santo Antônio e Congregação das Missionárias de Santo Antônio Maria Claret. Estes institutos, juntamente com a Congregação das Filhas do Amor Divino que em Palmeira dos Índios já residia, realizam, ainda hoje, inúmeros trabalhos de evangelização e promoção humana.
 
A Diocese de Palmeira dos Índios, percebendo as necessidades sociais do seu povo, iniciou, a partir do seu primeiro pastor, Dom Otávio, e seguindo com os outros prelados que aí residiram, ações que viabilizaram o anúncio do Reino e valorização integral da pessoa humana. A Igreja de Palmeira dos Índios quis fazer valer o que o Concílio reza na Constituição DogmáticaGaudium et Spes, 40: “A Igreja, que tem a sua origem no amor do eterno Pai, foi fundada, no tempo, por Cristo Redentor, e reúne-se no Espírito Santo, tem um fim salvador e escatológico, o qual só se poderá atingir plenamente no outro mundo. Mas ela existe já atualmente na terra, composta de homens que são membros da cidade terrena e chamados a formar já na história humana a família dos filhos de Deus, a qual deve crescer continuamente até à vinda do Senhor. […] A Igreja pensa, assim, que por meio de cada um dos seus membros e por toda a sua comunidade, muito pode ajudar para tornar mais humana a família dos homens e a sua história”. Concretamente, surgiram em nosso meio algumas obras sociais que tinham a intenção a pouco explicitada: o Centro Social Diocesano, cujo papel estava voltado para a integração das pessoas mais pobres na sociedade, desenvolvendo-as no ensino de habilidades domésticas tais como o curso de alfabetização, corte e costura, bordado, crochê e arte culinária; o Clube de Mães que buscava realizar serviços de assistência às gestantes e parturientes, inclusive orientando as mulheres sobre a maternidade, cuidados prévios com o nascimento dos bebês, alimentação, pré-natal, educação das crianças, religião, deveres do lar, etc; a construção da Vila João XXIII, conjunto de casas populares destinado aos pobres sem abrigo; o Asilo Vila do Idoso e Casa da Menina, ambas fundadas por Dom Fernando Iório; a instalação de dessalinizadores de água na região semiárida da Diocese; a Fazenda da Esperança Nossa Senhora do Amparo; a Casa do Menor São Miguel Arcanjo; e outras iniciativas.
 
Relacionada ao compromisso que brota do Evangelho para a Igreja como formadora cultural dos fiéis, a Diocese de Palmeira dos Índios funda, em 1966, os colégios Sagrada Família, em Palmeira dos Índios, e São Vicente de Paulo, na cidade de Pão de Açúcar, além de creches nos municípios de São José da Tapera e Palestina. Faz-se salutar recordarmos ainda de outras instituições promotoras de cultura fundadas pela Igreja em nossas terras: o Colégio de Santana do Ipanema; o Museu Xucurus que funciona, desde a sua fundação, na Igreja do Rosário, na sede da Diocese; a Facesta (Faculdade Santo Tomás de Aquino); os convênios com a Universidade Federal de Alagoas e o Centro de Estudos Superiores de Maceió para a implantação de cursos superiores em Palmeira dos Índios; a Faculdade São Vicente de Paulo, em Pão de Açúcar.  Com estas atitudes, os nossos pastores, cada qual ao seu tempo, demonstraram uma concórdia com o espírito conciliar: “O sagrado Concílio Ecumênico considerou atentamente a gravíssima importância da educação na vida do homem e a sua influência cada vez maior no progresso social do nosso tempo. […] Assim, a escola católica, enquanto se abre convenientemente às condições do progresso do nosso tempo, educa os alunos na promoção eficaz do bem da cidade terrestre, e prepara-os para o serviço da dilatação do reino de Deus, para que, pelo exercício duma vida exemplar e apostólica, se tornem como que o fermento salutar da comunidade humana” (DeclaraçãoGravissimum Educationis, 1.8).
 
Relacionado à promoção da vida pastoral da Igreja particular de Palmeira dos Índios, muitas foram as atividades desenvolvidas ao longo deste cinquentenário. Se Dom Otávio estruturou a Diocese, Dom Epaminondas José de Araújo preocupou-se primordialmente com a formação do Clero acerca do “aggiornamento” trazido pelo Concílio Vaticano II, cumprindo o que Paulo VI ordenava na Carta Apostólica de encerramento do Concílio, em 08 de dezembro de 1965: “Mandamos também e ordenamos que tudo quanto foi estabelecido conciliarmente seja observado santa e religiosamente por todos os fiéis, para a glória de Deus e honra da Santa Mãe Igreja, tranquilidade e paz de todos os homens”. Já Dom Fernando Iório reuniu o povo de Deus e os padres em Assembleias Diocesanas para inteirar a Igreja Palmeirense das proposições da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. O terceiro bispo de Palmeira dos Índios adquiriu ainda o prédio do Colégio Pio XII para servir de Centro de Treinamento da Diocese, bem como a construção do Lar Sacerdotal.
 
Ao longo deste meio século, foi característica marcante dos nossos pastores as constantes visitas pastorais, conforme o ordenado pelo atual Código de Direito Canônico no cânon 396 §1: “O Bispo é obrigado a visitar cada ano a diocese, total ou parcialmente, de modo que visite a diocese toda ao menos cada cinco anos, por si ou, estando legitimamente impedido, pelo Bispo coadjutor, pelo auxiliar, pelo Vigário geral ou episcopal, ou por outro presbítero”. Muito embora se comparado ao Código de Direito Canônico de 1917, esta prática, de per si, não é novidade do atual Código outorgado em 1983, já pelo papa então reinante, o Beato João Paulo II, tendo em vista o que fora determinado pelo Concílio Vaticano II.
 
O Presbitério de Palmeira dos Índios também deu dois de seus filhos para o Episcopado: Dom Jorge Tobias de Freitas, primeiramente eleito para a Diocese de Caxias, no Maranhão, sendo transferido mais tarde para Nazaré da Mata, Pernambuco, onde se tornou Bispo Emérito; Dom José Francisco Falcão de Barros, Bispo Titular de Auguro e Auxiliar para a Arquidiocese Militar do Brasil.
 
De muitas formas os Bispos Diocesanos dirigiram-se aos fiéis: suas vidas ilibadas, inúmeras pregações, exortações. Como não recordar as Cartas Pastorais de Dom Epaminondas: Sobre a Liturgia, Sobre a Evangelização, Sobre a Catequese, Sobre a Política e Bem Comum. Todas embasadas nos documentos conciliares. Os escritos de Dom Fernando Iório Rodrigues. O seu amor às Letras esteve sempre a serviço do Evangelho de Jesus Cristo; suas canções que tocaram e continuam a emocionar corações de muitos. O jornal “Igreja em Ação”; o endereço da Diocese na rede mundial de computadores; o programa dominical “A Hora Católica”…
 
Esta nossa prédica será, a partir de agora, um exame de vida, uma espécie de confissão, não feita somente a vós, nobres espectadores, nem apenas a grei do Senhor confiada à nossa fraqueza, mas, antes de tudo a Deus e um exame da minha consciência. Como quarto Bispo de Palmeira dos Índios, temos, durante os nossos seis anos de episcopado, procurado exercer o nosso pastoreio como “imagem viva de Deus Pai”, no dizer de Santo Inácio de Antioquia. E, se nos detivermos aqui, apenas com esta belíssima afirmativa do santo bispo e mártir de Antioquia, como elemento caracterizador de nosso governo episcopal, sentir-nos-emos extremamente satisfeitos, pois, como servos inúteis, fizemos aquilo que deveríamos fazer (cf. Lc 17,10).
 
Apraz-nos possuir a certeza de que, não pelos nossos méritos, mas pelo beneplácito de Deus, cujos caminhos nos são insondáveis, também fazemos parte deste cinquentenário. Refiro-me não somente ao Jubileu Áureo da Diocese de Palmeira dos Índios, mas, como Bispo da Igreja de Cristo, às comemorações dos dez lustros do Concílio Vaticano II. Diante das dificuldades inerentes ao nosso múnus episcopal, não somente do Dom Dulcênio em particular, mas dos bispos da Igreja, somos alentados pelo Senhor por meio do seu auxílio divino e providente na consecução da nossa árdua, mas altiva missão, que, na realidade é Dele, só que confiada a nossa indignidade. Aqui, não tratamos em fazer desabafos, mas de manifestarmos uma convicção baseada em São Paulo: Aquele que nos chamou é fiel, e cumprirá por nós, instrumentos troncos e insuficientes, o que é do seu desígnio misterioso e correto.

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