terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Padre Responde - O Pecado Contra o Corpo


PERGUNTA: Hoje escrevo-lhe porque gostaria de lhe colocar uma questão que muito me tem afligido nos últimos tempos. Sou uma jovem comum, como tantas outras, católica praticante. Desde a minha adolescência, sem saber muito bem como, adquiri o hábito da masturbação. Sabia que não era lá muito correto, mas admito que vivia essa situação com alguma normalidade. Costumava confessar-me frequentemente, mas nunca tinha abordado esse assunto em confissão, pois entendia que só a mim me dizia respeito. 


No entanto à medida que fui crescendo e entrando em grupos de jovens, fazendo alguns retiros onde o assunto era abordado percebi que de fato já há muitos anos que eu estaria em pecado, comungando mal e assumindo ser aquilo que não era. Nessa altura decidi parar com essa situação e apesar de toda a vergonha e constrangimento lá tomei a decisão de me ir confessar. Foi uma situação difícil e constrangedora, mas no final senti de fato a graça e a força do perdão de Deus. Foi mesmo um nascer de novo. Achava eu que a partir desse dia tudo iria ser diferente e que nunca mais voltaria a cair na masturbação.


Percebi tempos mais tarde que me tinha enganado redondamente. Apesar de frequentar assiduamente a Eucaristia, o sacramento da reconciliação, não tinha conseguido vencer este mau hábito. Hoje já com mais de trinta anos, sinto que de fato pouco ou nada mudou na minha vida. Durante algum tempo, sempre que isso acontecia deixava de comungar, só voltando a comungar depois da confissão. No entanto desde há algum tempo a esta parte tenho comungado, mesmo tendo consciência de que posso estar em pecado mortal. Sinto que de fato neste campo tenho dado um passo à frente e dois atrás. Como deve compreender não é fácil irmo-nos confessar e dizer sempre constantemente os mesmos pecados. Para que serve o sacramento da reconciliação se não melhoramos nada em nós? Passa a ser vazio e sem sentido.

A pergunta que lhe pedia que me respondesse é a seguinte: sempre que caímos no pecado da masturbação devemos deixar de comungar? Já por diversas vezes tentei colocar esta questão ao sacerdote a quem habitualmente me confesso, mas na hora falta-me sempre a coragem. Peço-lhe encarecidamente que me ajude e me dê resposta a esta situação



Caríssimo Leitor,

Quero agradecer-lhe pela sua participação no site de nossa Paróquia. Podemos assim verificar que este espaço suscita interesse e, esperamos, ser de ajuda para muitas pessoas.

Permita-me de fazer uma reflexão sobre os diversos pontos que você destaca ao fazer sua pergunta; pois não basta dizer “sim” ou “não” ao responder, penso que é importante também apresentar algumas razões pelas quais a Igreja ensina estas coisas. Para que algumas coisas sejam compreendidas, devemos verificar quais os princípios, as questões que fundamentam tais afirmações; pois se ficamos discutindo somente nas afirmações conclusivas, pode ser que não cheguemos a lugar algum.

Recordemos que se alguma coisa não nos prejudicasse, jamais a Igreja diria que seria um pecado. Algo se torna pecado não somente porque é um atentado contra Deus, mas também porque é um atentado contra a pessoa humana. Uma vez, uma pessoa me disse: “Padre, por que tudo o que é bom a Igreja diz que é pecado?”; veja, esta pergunta expressa a situação de muitos cristãos, os quais não conseguem perceber o mal, as conseqüências danosas, que existem em certas atitudes.

O Padre Lívio Melina na sua obra “El actuar moral Del hombre” fala de masturbação como excitação voluntária dos órgãos genitais com a finalidade de obter um prazer venéreo o qual pode chegar ao orgasmo.

Observando a Sagrada Escritura, verificamos que ela não contém nenhuma condenação expressa à masturbação. Ela é mencionada no livro do Levítico 15, 16; ali se fala da ejaculação procurada como sendo uma impureza não a castigar, mas a purificar. No Novo Testamento não há alusão clara e específica à masturbação. São citados: 1Cor 6,9-10; Ef 5,3 e Gl 5, 19-21; estes textos, porém, não condenam explicitamente tal ato. Porém, o silêncio da Sagrada Escritura sobre esta questão não pode ser considerado como indício de aprovação. Verificamos que na mensagem da Sagrada Escritura muito mais importante que a proibição de um comportamento depravado é a oferta dos valores positivos, os quais ela propõe. Os textos citados convidam expressamente os cristãos a viver de uma forma radical um espírito que não se limita a ideais abstratos, mas que se reflete em comportamentos muito concretos na hora de viver o dom da sexualidade.

Os Padres da Igreja que tocam neste argumento estão diante da imoralidade dos costumes pagãos, e por isso se mostram exigentes ao se referirem a este assunto. Na Idade Média, Santo Tomás de Aquino fala deste ato como contrário à finalidade procriativa própria, dada por Deus ao sêmen humano. Desperdiçá-lo inutilmente significaria, portanto, atuar contra a natureza. O ensinamento comum da Igreja que virá depois desse período coincide em considerar a masturbação como algo moralmente grave.

A sociedade atual é muito permissiva e excessivamente liberal no campo da sexualidade; isso não é sem conseqüências na vida das pessoas, sobretudo dos jovens. Por isso, vemos que alguns profissionais que deveriam ser de ajuda para a edificação humana, acabam estimulando os jovens a este comportamento, visto por eles como “normal”.

Não podemos afirmar que este comportamento seja inevitável e que seja um modo normal de viver a sexualidade. Este fenômeno em questão deve ser visto em relação com a inata debilidade do homem, consequência do pecado original, com a perda do sentido de Deus, com a depravação dos costumes fruto da comercialização do vício, com os apelos do mundo do espetáculo...

Não é preciso muito esforço para o discernimento moral objetivo nessa questão. A masturbação é, possivelmente, a manifestação mais clara de experiências humanas vazias. A experiência indica que são poucas as pessoas que não se sentem culpadas ao cair em tal ato. De um lado está a humilhação da própria experiência, a qual leva somente a um alívio provisório do incômodo, da tristeza ou de outra experiência pela qual a pessoa passa; de outro lado está a sensação de abusar de uma faculdade humana orientada para o encontro e a comunicação entre pessoas. Considere-se também que este ato é uma atividade solitária, guiada pela fantasia e o desejo não realizado de uma relação interpessoal.

É importante, porém evitar cair numa visão redutiva do fenômeno, seja no sentido de impor uma culpa generalizada e sem nenhuma diferenciação, seja no sentido de sucumbir em uma visão biologista ou psicologista do fato. Devemos admitir que em determinados momentos da vida, especialmente na adolescência, algumas manifestações deste ato possuem um significado puramente fisiológico, sem uma clara decisão egoísta da pessoa. Podemos dizer que ela aparece como uma etapa bastante primitiva no necessário desenvolvimento da maturidade da pessoa e em sua necessária abertura ao encontro interpessoal. Porém, o ato isolado pode dar origem a um hábito, um comportamento, uma mentalidade e uma atitude interior que irá aprisionar em níveis narcisistas o desenvolvimento psicossocial do adolescente e diminuirá a capacidade de amadurecimento e progresso no caminho do amor. É, portanto um transtorno anormal do amadurecimento.

A masturbação é, portanto, um ato intrínseca e gravemente desordenado.

A razão principal disso é a seguinte: qualquer que seja o motivo que o determine, o uso deliberado da faculdade sexual fora das relações conjugais normais contradiz essencialmente a sua finalidade. Falta-lhe, de fato, a relação sexual requerida pela ordem moral, aquela relação que realiza, em um contexto de verdadeiro amor, o íntegro sentido da mutua doação e da procriação humana. Somente nesta relação regular deve ser reservado todo o exercício deliberado da sexualidade.

Observe que o juízo moral negativo sobre este ato se apóia em uma visão personalista. Na masturbação, a outra pessoa está completamente ausente; a pessoa fica no nível da fantasia. O desejo, nesse caso, se volta para si mesmo, faltando a doação ao outro. O efeito da auto-gratificação é obtido através de duas causas diferentes que agem juntas: uma estimulação dos órgãos sexuais e a fantasia de uma relação com outra pessoa. O corpo aqui é utilizado como objeto hedonista.

O ato da masturbação é uma linguagem sexual sem o interlocutor natural. Converte-se em um monólogo carregado de narcisismo, mesmo se manifesta um desejo de relação. Ela não fala a linguagem do amor, não é palavra dirigida a outro, mas a si mesmo. É manifestação de um vazio interior e cria frequentemente um vazio existencial. Não é raro o fato de o ato ser consequência de alguma dificuldade existente na psicologia da pessoa.

O ato, portanto, é sempre objetivamente grave; diferente é a questão da responsabilidade subjetiva. Por isso, para o discernimento ético se faz necessário levar em conta diferentes contextos, os quais serão apresentados a seguir. Antes, porém, convém dizer que essa abordagem não é para isentar o cristão da responsabilidade de colaborar para a sua própria perfeição em Cristo, nem muito menos para legitimar m comportamento. Deve existir um esforço paciente para alcançar a perfeição humana e cristã.

Aqui podemos fazer a distinção entre a presença deste ato nos adolescentes e a presença nos adultos. No primeiro caso, compreende-se que a imaturidade do adolescente pode, em alguns casos, se prolongar para além desta fase; desse modo, o equilíbrio físico e o hábito contraído podem influenciar em seu comportamento, fator que diminui o caráter deliberado do ato. Por isso, esse ato, subjetivamente, nem sempre significa culpa grave; mesmo se esse critério deve ser aplicado com muita prudência, pois não deve ser usado para manter a pessoa nesse comportamento.
Para o adolescente, não é fácil integrar a pulsão sexual com o relacionamento pessoal; isso é ainda mais difícil quando as motivações sociais são para uma visão puramente hedonista da sexualidade.  O adolescente procura afirmar-se no mundo adulto que ele ainda não consegue enfrentar, para isso recorre ao uso da força sexual, através da fantasia para alcançar esse objetivo. Ele poderá superar essa situação se existir a ajuda dos meios espirituais; coloquemos aqui também ser necessário o crescimento no nível relacional.

Diferente é a situação de um adulto. Este comportamento nos adultos, inclusive, em alguns casos, entre os casados, é sintoma de um diálogo matrimonial que não vai bem, não somente do ponto de vista sexual. Aqui seria necessário sustentar uma vida de fé e de caridade mais intensa e um esforço contínuo para um encontro recíproco entre os cônjuges para recuperar um diálogo de doação intransitável-conjugal mais generoso.

Porém, todas as vezes em que nos encontramos diante de uma liberdade diminuída do sujeito se deve presumir que se dá uma responsabilidade subjetiva diminuída. O estado de angústia, os fatores psíquicos ou sociais atenuam a culpabilidade moral, mesmo se o ato permaneça objetivamente grave. Recordemos que a culpa do sujeito depende da gravidade da matéria (ato), da consciência dessa gravidade por parte do sujeito e da voluntariedade.

Não pretendo aqui, como já acenado acima, dizer simplesmente “sim” ou “não; mas desejaria colocar você em um caminho. O cristão deve, portanto, fazer todo o esforço a ele possível para possuir a liberdade verdadeira, para não ser condicionado, escravizado por nada. Como projeto de vida, deve existir o interesse para buscar a perfeição da vida em Cristo. Jamais deve haver acomodação. Devemos recordar o mistério da Cruz; todos somos chamado a um amor oblativo e generoso. Não esqueça os meios naturais e sobrenaturais. Recomendo-lhe um bom confessor, um competente diretor espiritual (seja transparente com ele), a vida eucarística, a confissão freqüente, a oração diária. Recomendo também a ascese para dominar as paixões e progredir nas virtudes. Os santos sempre recomendam a prática do jejum; este exercício da renúncia é muito útil para o domínio das más inclinações.

Parece difícil, mas com a graça de Deus não é impossível.

Espero que esta reflexão tenha ajudado a você encontrar a resposta para suas interrogações. Coragem!

Saiba que aqui existe um padre que reza por você!

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