quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Padre Responde - Reencarnação e Ressurreição

Tenho dúvidas sobre reencarnação e ressurreição. Pelo meu entendimento a reencarnação não nega a ressurreição, já que, segundo os espíritas a reencarnação é apenas purificação. Se pagar ainda na matéria os erros da matéria, será purificado e poderá no dia final receber a ressurreição. Isto é certo?

Caríssimo leitor, fiz algumas afirmações nas celebrações as quais acredito que tenham suscitado em você estas interrogações. As afirmações foram as seguintes: o cristão crê na ressurreição e não na reencarnação. São água e óleo, não se misturam. A Igreja não nos obrigará a crer na ressurreição, mas nos diz que se ficamos com a outra opção, não seremos cristãos.

Por reencarnação entende-se que uma pessoa que cometeu algum erro em uma vida anterior deverá retornar para esta terra para que se purifique de tais faltas. O processo acontecerá enquanto a pessoa não conseguir alcançar tal purificação com seus próprios esforços. Os adeptos desta teoria divergem quanto a este processo, pois alguns afirmam que a pessoa somente assumiria um outro corpo humano;  mas há quem diga que a pessoa poderia reencarnar em um animal ou planta. Há ainda aqueles espíritas que rejeitam a reencarnação porque, movidos por preconceitos de raça, não desejam reencarnar em pessoas de outra raça.

A idéia de reencarnação anula a obra de Cristo, pois a pessoa que a assume deve buscar a purificação com os seus próprios esforços, é descartada qualquer possibilidade de a pessoa receber a ajuda externa neste ponto, visto que é ela mesma quem deve sozinha alcançar a sua purificação. É como se dissesse a Cristo: “não necessito de sua ajuda, do sacrifício que o Senhor realizou na Cruz”.


A idéia de reencarnação coloca a pessoa em uma situação desesperadora, pois a pessoa sozinha jamais consegue livrar-se de seus erros. É impossível ao homem sozinho livrar- se do poder do mal. É como uma situação de condenação eterna, visto que a pessoa terá que retornar indefinidamente a uma situação de sofrimento, sem saber quando alcançará sua libertação da condição atual.

DIFERENTE É A VISÃO CATÓLICA - Cristo se ofereceu ao Pai por nós, para nos libertar do poder do mal e nos dar a salvação. Com o pecado, a ofensa feita a Deus assume uma proporção infinita, visto que aquele que foi ofendido foi o próprio Deus. Daí sabemos que o homem, criatura finita, não poderia sozinho corrigir a gravidade do ato cometido, somente o próprio Deus. E isso foi feito. Ele pagou o preço, derramando o seu sangue na Cruz por nós. A salvação nos é dada. Ressurreição significa que a pessoa alcança a mesma vida que Cristo já alcançou, onde existe a plenitude do ser, sem nenhuma negatividade.

O sofrimento que experimentamos aqui não é resultado de uma dívida adquirida em vidas passadas, pois estas não existiram. Depois dessa existência terrena, a pessoa, pelos méritos de Cristo, alcançará aquela vida que já não é marcada pelas realidades negativas experimentadas aqui.

Esse modo de compreender nos enche de esperança, pois, por mais difícil que seja a situação da pessoa que sofre, o cristão sabe que esta não permanecerá para sempre, que alguém, mais forte, nos trará a salvação. Não se trata de condenação eterna, mas de superação da situação atual com a ajuda da graça de Cristo. Esta compreensão não existe na idéia de reencarnação, e além do mais, esta compreensão lá e anulada; pois, cada um por seus próprios meios deve chegar a este estado de perfeição.

RESSURREICAO significa, portanto superação da condição atual, não por destruição, mas por transfiguração; com a ajuda do próprio Deus e com a colaboração da própria pessoa.

O católico não pode crer na reencarnação, a teoria segundo a qual a alma, deixando o corpo após a morte, passaria para outro corpo. A Sagrada Escritura nos ensina que cada pessoa tem uma só existência sobre a terra e que, após essa vida, comparece diante de Deus para ser julgada. Diz a Carta aos Hebreus (9,27): “Está estabelecido que os homens morram uma só vez e, depois disso, o juízo.” De fato, Jesus e os Apóstolos não pregaram a reencarnação e sim a ressurreição dos mortos: “Vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros hão de ouvir a voz do Filho do homem. Os que praticaram o bem irão para a ressurreição da vida, e aqueles que praticaram o mal ressuscitarão para serem condenados” (Jo 5, 28-29; 6,54; Mc 3,29; 9,43-48). Da mesma forma, os Apóstolos ensinaram que a ressurreição de Cristo é garantia da nossa ressurreição (cf. 1Cor 15,12-19).

Alguém poderia alegar que no espiritismo também se crê em Cristo, também se faz caridade... Inclusive as orações e cantos católicos aparecem lá. É preciso entender bem: no espiritismo não se crê em Cristo. Para os adeptos desta mentalidade, Cristo não passa de um homem iluminado, mas jamais seria o que nos dizemos no símbolo de Fé: "DEUS DE DEUS, LUZ DA LUZ, DEUS VERDADEIRO DE DEUS VERDADEIRO, CONSUBSTANCIAL AO PAI, GERADO NÃO CRIADO, POR ELE TODAS AS COISAS FORAM CRIADAS". Depois, como posso dizer que creio em Cristo se nego a própria verdade sobre a pessoa dele, sobre quem Ele é?

Entre os adeptos desta idéia também não se pratica a caridade, mesmo se usam este nome. É comum nos dias de hoje usar as palavras dando a elas um outro significado. É o que acontece com a idéia de caridade. A caridade significa o amor a Cristo, ou melhor ainda, o amor de Cristo em mim me faz agir em favor de meus irmãos. Para que uma ação seja chamada caridade, ela deve ser motivada somente pelo amor de Cristo e pelo amor a Cristo. Ora, como posso dizer que amo a Cristo se nego a realidade da pessoa dele, como também seus ensinamentos? Não é estranho isso?

Considere também que os adeptos da reencarnação possuem uma visão do corpo, do mundo material, altamente negativa, pois a pessoa se encontraria encarcerada e teria que se libertar desta prisão. Algo a que se libertar. Concepção que não existe no cristianismo, visto que para nós a matéria, o mundo, o corpo, por terem sido criados por Deus, carregam traços da bondade do Criador.

Acrescento um último detalhe: para nós católicos, existe a idéia de ASCESE. O que seria isso? Repare bem, todos nós devemos fazer um esforço para que nossos pecados deixem de existir em nós, para crescer no caminho de assimilação do estilo de Cristo; e isso exige um esforço, renúncias, mortificações... isso nós chamamos de ASCESE. Podemos também dizer que é um caminho de purificação, para que depois alcancemos a RESSURREIÇÃO. Porém, a ascese é feita aqui nesta vida, no meu próprio corpo para purificá-lo do pecado. Jamais a ascese significaria voltar para uma outra vida, em um outro corpo, para que aconteça a purificação.

A Igreja nos convida a vigiar “constantemente, a fim de que, terminando o único curso de nossa vida terrestre, possamos entrar com Cristo para as bodas e mereçamos ser contados entre os benditos!” (LG, 48). Participar do banquete celeste, onde existirão o novo céu e a nova terra.


Texto: Pe. Cícero Lenisvaldo Miranda

Um comentário:

EnedinoPoeta disse...

Não confundam Cristianismo com catolicismo. O que a Igreja Católica defende e prega é o catolicismo. O Cristianismo está além de suas ações, muito embora ela se esforçe para imitar os ideais de Jesus.